Com a força de nosso agronegócio sendo cada vez mais protagonista e no
mercado internacional, principalmente nos complexos grãos e carnes, o impacto
do dólar americano nos negócios locais se torna cada vez maior.
O câmbio nada mais é do que o sentido da palavra que origina, do
espanhol ‘cambiar’, que significa mudança, ou seja: mudar a moeda que esta
mercadoria é comercializada em um país, pela moeda do país que se destina. O
que ocorre é que algumas moedas são mais valorizadas que outras, alterando
assim, o fator de conversão. Se forem necessários dois reais e trinta centavos
para trocá-los em um dólar, o preço da mercadoria se for US$ 10.00, será, em
reais, R$ 23,00.
Compreender estas variações e quanto isso pode impactar seu negócio é
mais do que mandatório para quem atua no agronegócio. Mais importante ainda é
como podemos nos proteger dessas variações cambiais.
IMPACTO PARA QUEM IMPORTA
Para quem compra insumos agrícolas (fertilizantes, defensivos e
sementes), vê a dependência do mercado externo muito fortemente nos preços
pagos no mercado local. Toda vez que temos uma desvalorização do real face ao dólar
há um repasse de preços para o produtor. Quando o contrário acontece, a redução
nos preços é bem menor comparado aos momentos de aumento. Sendo assim o
produtor se vê em uma “sinuca de bico” que corroe os custos de produção. Quando
falamos de máquinas e implementos, o repasse ainda é maior, pois além da variação
cambial existe o valor do aço e do minério no mercado internacional.
Para se ter uma idéia do tamanho da exposição do produtor a esses
insumos agrícolas importados, mais de 60% dos fertilizantes que consumimos no
Brasil vem do exterior, contra 40% provenientes do mercado interno. E quando o
produto é de fora, é necessária a troca de reais por dólares para a efetivação
dessa importação. O intervalo entre a encomenda desse insumo e a execução do
preço efetivo da mercadoria pago pelo produtor é de aproximadamente 45 dias,
grande parte em função da logística. Em momentos de variação cambial forte e
incertezas no mercado internacional, somente a variação cambial nesse período,
pode chegar a 10% a mais pago produtor em cada negócio. É um risco importante e
que afeta diretamente a rentabilidade do empresário rural.
Mas essa variação no câmbio pode ser ainda maior, considerando o fato
que muitos produtores adquirem seus produtos no sistema de trocas (recebendo
fertilizante e pagando em sacas soja, por exemplo), podendo aumentar ainda mais
a variação, pois o momento da compra dos insumos e da realização da venda da
soja são muito distantes.
Há outro fator que pode aumentar os custos, pois as operações que
envolvem a importação de produtos, toda a formação de preços é balizada pelo
dólar americano como, por exemplo, os custos do petróleo e do frete internacional,
além dos custos portuários.
Portanto, para quem compra insumos externos, compreender estas variações
e avaliar mecanismos para reduzir esses riscos é mandatório para o empresário
do agronegócio que não parou no tempo.
IMPACTO PARA QUEM EXPORTA
Para quem vende commodities agrícolas a “aflição” é ainda maior. O
empresário do agronegócio deve considerar sempre três variáveis para compor seu
preço no mercado local:
1,.) O preço da commoditie no mercado internacional (leia-se Bolsa de
Chicago, ou CBOT, Chicago Board of Trade)”:
Os preços no mercado internacional são muito
influenciados pelas relações de oferta e demanda desses produtos no mercado
internacional, onde podemos salientar as variações climáticas e o controle de
pragas do lado da oferta e do lado da demanda o impacto de grandes mercados
compradores, como China por exemplo.
2.) O frete médio entre a sua região e os principais portos brasileiros
(Santos e Paranaguá, no caso do complexo grãos).
Já os fretes no mercado interno sofrem
principalmente o impacto dos preços dos combustíveis no mercado interno, sendo
essa variável monitorada pelo governo brasileiro por intermédio da Petrobrás
que monopoliza a distribuição dos combustíveis no Brasil. Um impacto no aumento
de combustíveis no mercado interno gera um aumento direto na inflação. Por isso
essa ingerência direta do governo nesse setor.
3.) A relação entre o Real
Brasileiro e o Dólar Americano
O valor do dólar americano e sua relação com a
nossa moeda é dada pela taxa de cambio nominal, que é o resultado das
negociações da moeda americana na BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros) diariamente.
Na BM&F é onde todo fluxo de moedas relacionadas aos contratos de
mercadorias em moeda estrageira são realizados, portanto é onde há o melhor
equilíbrio entre a necessidade de moeda americana e de moeda nacional.
O Banco Central pode interferir nos negócios
comprando ou vendendo reais e dólares quando achar conveniênte, pois possui um
volume importante de dólares em reserva (aproximadamente USD 375 bilhões) e é o
guardião do real brasileiro, podendo emitir a quantidade de moeda que achar
necessário para equilibrar os mercados. Portanto é função do Banco Central
evitar as grandes variações cambiais, mas não é papel dele direcionar os
mercados. Portanto temos uma linha muito tênue entre regulação e intervenção.
Dito o acima, o empresário do agronegócio deve avaliar com cuidado o
preço da commoditie que ele produz e a relação real versus dólar, ambos com o mesmo peso e importância.
Em determinados momentos em nossa economia pudemos constatar que a queda
na cotação da soja pôde ser aliviada por uma forte desvalorização da moeda
brasileira, fazendo com que nossos produtos se tornassem mais atrativos no
mercado internacional. Quando o Dólar estava desvalorizado e a soja com
cotações altas no mercado internacional pôde se verificar uma grande realização
de lucros por parte do produtor brasileiro. Era o melhor dos cenários. O pior
também já ocorreu, com real valorizado e preços baixos das commódities.
Esses fatores externos (ou exógenos), que não estão sob domínio ou
gestão do produtor, que podem influenciar seu negócio. Desejar que o real se
desvalorize para ele vender melhor, pode ser um erro, pois ele irá pagar mais
caro nos insumos que ele compra. Desejar um real caro, pode fazer com que ele
perca competividade no mercado internacional. Portanto um câmbio equilibrado,
com variações diárias pequenas, é o melhor dos cenários para o agronegócio. O
pior cenário são as variações malucas dadas pelo humor dos mercados
internacionais. No médio prazo os ajustes são inevitáveis no mercado cambial,
ou naturalmente pelas forças de mercado, ou via intervenção do Banco Central.
COMO SE PROTEGER ?
Hoje o produtor pode contar com uma série de profissionais que podem
ajudá lo na consulta sobre as perspectivas e que produtos financeiros pode
utilizar. Entendo que a proteção contra os riscos de mercado (preço da
mercadoria) e cambiais (moedas) só pode se dar por meio dos mercados de
derivativos.
Seguros e operações de hedge, são frequentemente utilizadas pelos
grandes grupos produtores, e há uma grande parte de médios e pequenos
produtores que não entram nesses mecanismos de proteção pois não entendem como
funciona esse processo e o quanto pode ser seguro. É importante também citar
que essa flutuação cambial é algo que ocorre efetivamente desde 2001 e por ser
algo “relativamente novo” demanda uma processo de formação e compreensão por
parte dos produtores.
Caro amigo e amiga, não se sinta incomodado caso não conhecer estas operações, busque um
economista ou operador do mercado financeiro para lhe ajudar nesse processo.
Entender de economia é tão importante quanto sua busca por excelência dentro da
porteira. Busque minimizar seus riscos externos, tanto quanto você busca
melhorar seu desempenho em produção.
Mauricio Faganelo*
Adriano Paranaíba**
*Economista pela PUC-SP, MBA em Marketing pela ESPM-SP, Mestrando em
Planejamento e Desenvovimento Territorial pela PUC-GO. É professor de cursos de
pós graduação da FAR e Fac. Objetivo. Foi professor do IF Goiano, PUC-SP e
UNINOVE-SP. Diretor da Moka21 Consultoria Empresarial, atua como consultor
empresarial de empresas do Agronegócio, Indústrias, Comércio e Setor Público.
**Economista, Mestre em Agronegócio pela UFG, Doutorando em Logística
pela UNB, Ex presidente do Instituto Pró Economia. É Professor do Instituto
Federal de Goiás.
Excelente post!
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