Depois de quase 20 anos do advento do Plano Real, sem dúvida
nenhuma, o que sustentou o crescimento da economia brasileira foi o que é
popularmente chamado de Nova Classe Média brasileira.
Particularmente, venho estudando este tema há mais de 5 anos
e tenho a convicção que este público não vai parar de crescer nos 5 próximos anos.
E melhor, muitas famílias que fazem parte da classe C, irão subir para a classe
B em breve. Mas isso é assunto para outro artigo.
Mas quem faz parte da classe C ?
No Brasil exitem algumas formas de classificar essa parte da
nossa sociedade, e temos metodologias feitas pelo IBGE e pela Associação
Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) que avaliam as classes sociais de
formas distintas. Para simplificar, podemos considerar esse extrato social
pelas famílias que possuem renda familiar que vai de 3 a 10 salários mínimos
mensais.
A Classe C, sem dúvida, foi a responsável pelas mudanças
mais profundas que passamos nos últimos 15 anos. Para exemplificar melhor, os
números falam por si:
Em 2003, quase 38% dos brasileiros eram da classe C. Em 2011
já ultrapassavam os 54% da população segundo estimativas do IBGE. Estamos falando
de aproximadamente 102 milhões de brasileiros.
Em 2001, 30% dos brasileiros entre 16 e 60 anos possuiam celular. Hoje são mais
de 85%.
Em 1992, 23% das residências brasileiras tinham máquina de lavar roupas. Hoje
quase metade das residências possuem esse eletrodoméstico. E se falarmos de
Geladeira, em 1992 eram 70% das famílias que possuiam o bem que alguns dizem
como a invenção do século 20. Hoje, mais de 95% das casas do país contam com
esse eletrodoméstico.
A estabilização dos níveis de preços ao consumidor, aumento
da renda do trabalhador, combinado com acesso ao crédito e benefícios fiscais
promovidos pelo governo (reduzindo impostos) foram alguns dos fatores que
fizeram com que pudessemos ver esse mercado como o mais crescente e promissor
no país.
Mas, como uma sociedade que evolui, esse público também
evoluiu no seu desejo de comprar.
Crédito fácil e parcelamento em prazos mais longos passaram a ser fatores que o
consumidor da classe C avaliasse como comum.
E esse público agora tem outras demandas. E quem vende para esse público deve
estar mais atento às novas tendências para poder ter melhores resultados. Vamos
falar de alguns deles:
- Custo-Benefício e
Qualidade
A classe C está mais exigente e
busca mais qualidade nos produtos que consome. O hábito de avaliar as
informaçoes na hora de comprar algo fazem cada vez mais parte dos hábitos desse
público.
- Novos Produtos
Em 2002, a classe C adquiria em novos produtos o equivalente a 25% de suas
compras. Hoje esse número já passou de 40% do total de produtos consumidos.
- Eduacação: A chave
para o sucesso
É senso comum que a Educação é o passaporte para a melhorar de vida. E o
ensino passou a ser cada vez mais uma prioridade para essa classe social. Só
que o consumidor da classe C aprendeu que não basta mais ter somente o diploma.
70% da classe C acredita que o diploma só vale a pena se o ensino for de
qualidade. O reflexo dessa idéia é que pouco mais de 22% das famílias da classe
C possuem filhos matriculados na rede privada de ensino. Na classe D, eese índice
não passa de 9%.
- Internet mudando o
comportamento das famílias
A presença de crianças no ambiente virtual faz com que toda a família
esteja engajada no conhecimento de novas tecnologias, principalmente utilizadas
pela classe C em websites de redes sociais, pesquisas escolares, leitura de
emails e notícias. Para quem aposta no segmento de lojas virtuais, a classe C
será em 5 anos o principal mercado consumidor, ultrapassando as classes A e B.
Sempre pergunto aos meus alunos de ensino superior se possuem email e acesso a
internet. 100% deles tem pelo menos 1 conta de email, e pelo menos 10% não tem
conta bancária ou conta poupança. Ou seja, os jovens estão engajados no mundo
virtual, mas não no mundo financeiro. Quer vender mais ? Esteja engajado no
ambiente virtual !!!
- Moda e beleza não
vão parar de crescer
Para a mulher da classe C, estar bem arrumada é uma forma de diminuir as
barreiras étnicas e sociais que dificultam a inclusão social. Para se ter uma
idéia de valores que fazem parte de nossa cultura, 7,5% dos brasileiros
acreditam que a aparência é um dos fatores mais importantes para conseguir um
emprego e 70% das mulheres acreditam que é importante estar em sintonia com a
moda. Um reflexo desse comportamento é o crescente número de empresas de venda
porta a porta de produtos de cosméticos, um mercado em constante crescimento no
Brasil.
- Os gastos com lazer
irão aumentar
92% dos jovens da classe C consideram o lazer importante em sua rotina e
gastam por volta de 30% de sua renda nesse ítem. Com o aumento da renda
proveniente de uma melhor qualificação profissional os gastos com a “balada”
tendem a crescer cada vez mais.
- Investimento em
imóveis como forma de guardar dinheiro
A classe C diminuiu o volume de suas reservas direcionadas para a aplicação
financeira mais popular: a caderneta de poupança. Segundo relatório do Banco
Central, houve uma redução de 2%. Esse dado só confirma o comportamento de
consumo da classe C motivado em dar conforto para a família e ampliar o acesso
a bens e serviços. Para se forçar a poupar, a Nova Classe Média tem
comprometido seu orçamento mensal na aquisição de imóveis e hoje já é o público
que mais consome casas de veraneio no Brasil.
Apesar das mazelas que ainda vemos em nossa sociedade, não
podemos deixar de citar a evolução que vimos no pós Real. Quem já subiu de
classe social não quer voltar a classe mais baixa. É esse o desafio que teremos
nos anos que virão.
Muito foi feito até agora, mas muito mais precisa ser desenvolvido. Uma queda
nas taxas de juros para níveis aceitáveis e o desenvolvimento de uma cultura
que beneficia quem poupa é o grande passo que daremos para consolidar o bem
estar dos brasileiros - pois o que pagamos aos bancos ainda é inaceitável e um
atentado ao bolso do brasileiro.
É preciso educar financeiramente a população. E isso nunca
pudemos fazer pois boa parte da população era pobre ou miserável. Agora com um
pouco mais de renda esse passo é fundamental.
O que antes era utopia, já pode ser visto como uma
possibilidade.
Não é momento de sonhar. Isso já passou. Agora é agir. Dê seus pulos.
MF