30 de julho de 2012

As Ondas de Desenvolvimento Econômico de Rio Verde - Goiás


O desenvolvimento econômico de Rio Verde é um fato claro e óbvio para todos em nossa região. Mas para saber o que queremos para o futuro de nossa cidade em relação ao desenvolvimento econômico e social, é obrigação lembrar como chegamos até aqui e porque nossa cidade é a número um no agronegócio brasileiro.

Nos anos 20 do século passado, a região do Sul Goiano experimentou um florescimento mercantil que permitiu o desenvolvimento das cidades para um modelo mais urbano e comercial, calçado principalmente pelas políticas de expansão agrícola.

A soja “entrou” em nosso Estado, exatamente aqui no Sudoeste Goiano na década de 50, pois nossa região já apresentava um maior dinamismo e em relação a outros locais. O Governo Federal então resolveu, através do POLOCENTRO beneficiar esta realidade e dar maior apoio aos produtores de nossa região.

Até a década de 60, as principais atividades econômicas do nosso município eram ligadas a criação de gado e a produção de arroz. Rapidamente Rio Verde se consolidou como cidade-polo produtora de soja do Sudoeste Goiano. Este dinamismo fomentou a iniciativa de alguns produtores em melhorar ainda mais seu processo produtivo e reduzir custos operacionais, dando início ao que podemos chamar de Primeira Onda do Desenvolvimento Econômico de Rio Verde, através da fundação da Cooperativa Mista dos Produtores Rurais do Sudoete Goiano – COMIGO.

A COMIGO, fundada em 1975 por cerca de 50 produtores da nossa cidade, desempenhou, e desempenha até hoje, um papel crucial para o estabelecimento de um setor produtivo que envolve toda produção e processamento de grãos em escala industrial. Inicialmente o problema principal da COMIGO era enfrentar os contratempos relacionados ao armazenamento e comercialização do arroz e do milho – principais produtos da nossa região – mas o “boom” da soja apartir de 1970, transformou também o foco desta cooperativa. Com uma estratégia que se baseou na verticalização da produção e na agregação de valor aos produtos agropecuários, obedecendo sempre a lógica da diversificação da base produtiva de seus associados, a COMIGO hoje é considerada uma das principais empresas agropecuárias do país.

O processo de estabelecimento da cooperativa no entanto foi lento e trabalhoso. Em 1977, já eram mais de 170 cooperados. Nesse ano também foi construído o primeiro armazém de grãos em Rio Verde. Entrepostos foram abertos nas cidades vizinhas e a cooperativa impulsionava o crescimento de Rio Verde, apesar da desconfiança de muitos produtores em relação ao ”novo grão”. Sabendo se aproveitar de subsídios governamentais a COMIGO se tornou o maior agente de disseminação do cultivo de soja nos anos 70 e 80 no Estado de Goiás. A liderança de seus associados fundadores foi fundamental para estabelecer uma cultura empreendedora, convencendo e educando os agricultores acostumados com produtos tradicionais e também junto aos agricultores que vinham de outras regiões do Brasil para se estabelecer aqui, miscigenando e transformando a cultura de uma Rio Verde nova e com grandes perspectivas.

Em 1980 e Rio Verde tinha aproximadamente 75.000 habitantes. Pouco mais de 25% em áreas rurals. Para se ter uma idéia, hoje a nossa população rural é de apenas 7,3%.

A COMIGO continuava a crescer e expandir suas atividades, e outras empresas também passaram a se estabelecer por aqui nos anos 80, como a Kowalski, em 1986.
Assim claramente podemos afirmar que o primeiro Salto ou Onda de Desenvolvimento em Rio Verde, foi proporcionado pela capacidade de nossos produtores agrícolas em se articular para obter melhores ganhos em processos e produtividade – bases para a criação da COMIGO.

Para se ter uma idéia hoje o que representa essa inicativa, em 2012, segundo o RANKING EXAME, da Editora Abril, dentre 400 empresas analisadas do agronegócio, a COMIGO é 55ª empresa brasileira em vendas, 45ª que mais cresce e 38ª em lucro líquido.
A Segunda Onda de Desenvolvimento Econômico veio justamente pela capacidade de associativismo e integração que é o DNA de nossa economia. Através da grande capacidade de fornecer insumos à cadeia produtiva de aves e suínos, combinado com uma série de incentivos fiscais, a Perdigão decidiu instalar seu Complexo Agroindustrial em nossa cidade.

No ano 2000, Rio Verde tinha pouco menos de 117.000 habitantes segundo o IBGE e uma indústria com base no agronegócio só viria a fortalecer uma economia que já dava sinais expansão em outros setores, como a Construção Civil e a Metalurgia.

No fim de 2003, o recém inaugurado o Complexo Agroindustrial de Rio Verde produzia 260 mil toneladas de carnes e empregava mais de 3700 funcionários diretos. Toda uma cadeia de granjeiros para fornecer suínos e aves foi estabelecida e uma série de indústrias como Grupo Orsa e Videplast fizeram parte desta grande mobilização empresarial em nossa cidade.

Mas não foi só na indústria que Rio Verde respondeu. As Escolas do Sistema S, a Fesurv (Universidade de Rio Verde) e o Instituto Federal Goiano (antigo CEFET) buscaram atuar na formação de mão de obra qualificada, envolvendo uma série de competências profissionais bastante variadas. De operários a gerentes, de proprietários a administradores de granjas, muita gente se capacitou para atender a nova demanda de mercado.

Mais pessoas decidiram se estabelecer por aqui e o Brasil em 2007 consumia como nunca. A nova classe média emergiu com uma força surpreendente e boa parte do que alimentava a mesa dos brasileiros, chineses, rússos e europeus vinha do trabalho de rioverdenses.
Em 2007, nossa população cresceu quase 30% em relação a 2000 e Rio Verde chegava a 150.000 habitantes. O principal é que mais de 58% era composta por pessoas acima dos 30 anos. Um forte mercado consumidor e principalmente que decide o gasto familiar. Para se ter idéia, em 1980, a população acima dos 30 anos era de pouco mais de 30% do total.

Essa Segunda Onda de Desenvolvimento teve impactos fortes em nossa economia. O creccimento anualizado do PIB rioverdense foi de 17% ao ano entre os anos de 1999 e 2008. Jataí em Mineiros também se desenvolveram, mas na casa de 14% ao ano.

Até que em 2009, Rio Verde se consolidou como a capital brasileira do agronegócio. Os dados de 2010 e 2011 oficiais ainda não sairam, mas é fato que a geração de riqueza de nossa região aumentou ainda mais nesses anos. Muito provavelmente seremos a nº 1 no agronegócio de 2010 e 2011.

O crescimento econômico do agronegócio gerou renda em outros setores da economia, e Rio Verde é a cidade onde mais de vende veículos utilitários no Brasil. O setor da construção civil caminha forte e o curso superior de Engenharia Civil do IF Goiano irá ter início em 2013 fornecendo mão de obra qualificada a um setor de nossa economia que demanda cada vez mais gente com conhecimento e preparada para construir uma nova sociedade. O número de abertura de empresas quadruplicou entre 2009 e 2011.

Agora estamos prestes a ver uma nova mobilização em nossa cidade. O Polo Industrial Ferroviário irá elevar Rio Verde para um novo patamar. Será, o que penso a Terceira Onda de Desenvolvimento Econômico que vivenciaremos. A Ferrovia Norte-Sul irá conectar nossa região aos principais polos de escoamento portuário do nosso pais. Alguns produtores falam numa economia de R$ 3,00 / saca de soja somente com a redução no valor do frete.

Historicamente, todas as cidades brasileiras que passaram a se conectar com a rede ferroviária se desenvolveram. Durante o final do século XIX e século XX, o Estado de São Paulo se desenvolveu muito por conta destas facilidades logísticas. Com uma plataforma moderna e com uma base agrícola e industrial desenvolvida poderemos alcançar um patamar de desenvolvimento ainda maior.

Empresas de Fertilizantes, Metalurgia Pesada, Montagem de Motores e uma gama enorme de empresas de serviços e varejo, já se habilitaram e querem participar desta nova fase de desenvolvimento. Hoje somos por volta de 200 mil habitantes, e creio que em 2020 estaremos com uma população de 250 mil habitantes.

A lição de casa que nos resta é escolher bem um modelo de desenvolvimento que favoreça a formação de mão de obra qualificada de alto nível, em padrões mais altos dos que vivenciamos hoje, atuarmos fortemente junto as distorções sociais provenientes de um crescimento populacional desordenado e garantir as próximas gerações um futuro cada vez mais brilhante.

Os últimos 164 anos foram intensos. Que venham muitos mais, e cada vez melhores.

Vou dando meus pulos por aqui. E você ?

Mauricio Faganelo
Economista, Delegado do Conselho Regional de Economia de Goiás (CORECON) em Rio Verde CORECON. É professor universitário e empresário.