8 de junho de 2012

Ensino, pesquisa e...business? por Prof. Adriano Paranaíba


Artigo do Prof. Adriano Paranaíba que fiz questão de publicar em meu blog.....
Faço das palavras do meu amigo Prof. Paranaíba as minhas... Concordo plenamente com sua visão. Vale a pena a leitura.

Quando nos deparamos com um artigo que tem como título ensino, pesquisa e extensão já começamos a imaginar que se trata de um texto sobre a discussão da importância do ensino. A combinação destas três palavras aciona em nosso cérebro a construção da figura de um pedagogo versando sobre os desafios da educação brasileira. E quando escutamos a palavra business? Não sei você, mas quando escuto essa palavra só me lembro do Roberto Justus comandando o programa O Aprendiz, ou do Eike Batista (até a fisionomia dos dois ajuda). E, realmente, existe no censo comum uma dicotomia destes conceitos, e até uma disputa para saber quem é mais importante: prática ou teoria, como se fossem metades de laranjas diferentes.
 
Para mim, que sou economista, enxergo os pedagogos como os fiéis depositários da responsabilidade de transmitir e vivificar a chama do zelo pelo aprendizado do aluno, que, por lei, cabe a todos docentes. De fato, são verdadeiros guerreiros: encaram o 'front' desta guerra como soldados impulsionados pelo espírito freiriano de quebrar os grilhões da ignorância, inspirados nos ideais de solidariedade humana e inflamados pelos princípios de liberdade. A finalidade é clara na Lei de Diretrizes e Bases da Educação: alcançar o pleno desenvolvimento do educando, preparando-o para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Não quero criticar as correntes ideológicas que são utilizadas para lutar à favor do alcance do exercício da cidadania, mas faço críticas aos que  lutam apenas por lutar, esperando que cordeiros se tornem leões. Mas se assim estão, não é por culpa dos pedagogos, mas nossa, que os tratamos como soldados feridos que foram esquecidos, deixados para traz – abandonados à própria sorte.
 
Digo isso porque, tanto quando me graduei, como quando concluí meu mestrado, a pergunta que me faziam, e várias pessoas nesta situação escutam também, é: “E ai? Você vai para a academia (docência) ou vai para o mercado de trabalho?” E por que desta concepção? Temos em nossa mente o referencial de que é na prática que vem o sucesso profissional, e cada dia mais vemos palestras de empresários bem sucedidos que apontam sua receita de sucesso profissional desassociado do desempenho acadêmico. O consenso das receitas destes grandes nomes do business coloca o estudo como acessório, onde muitos abandonaram a faculdade para alcançar o sucesso: Bill Gates, fundador da Microsoft, e Mark Zuckeberg, fundador do Facebook, abandonaram Harvard; Steve Jobs, fundador da Apple, abandonou Reed College, em Portland. No Brasil, a coisa é banalizada: de Lula a Tiririca o ensinamento é: estudar pra quê?
 
Como resposta temos, atualmente, no Brasil o chamado apagão de mão de obra qualificada. Atualmente as empresas cobram cada vez mais dos funcionários visão crítica e capacidade de identificar e analisar problemas e de propor soluções, aumentando a competitividade das empresas, e que são características que aumentam também a competitividade do profissional que seja portador destas qualidades. Somente o ensino pode cravar isso nas pessoas. Na verdade, apenas a instituição que não dicotomizou a pesquisa e a extensão do ensino é capaz de tornar-se uma verdadeira 'usina em que se forja profissionais muito mais preparados'.
 
Convergindo à nossa realidade local, semana passada pude participar da Jornada Científica da Faculdade Araguaia, onde consegui ver a fagulha deste ideal acesa. Estudantes da graduação percebendo que escrever artigos científicos, participando de mesas de discussão de temáticas específicas da profissão que buscam graduar-se, tem um significado muito maior que colocar seus nomes nos cadernos e revistas científicas ou acumular horas complementares: é poder exercer a aplicabilidade de todo o conhecimento adquirido para o mercado de trabalho! Os alunos perceberam que fazer Pós Graduação e Extensões é garantir que participem como membros ativos do processo de inovação, seja radical ou incremental, dos modos de produção, processos e formas de organização. Se falamos muito do poder transformador da educação, que imputando o pensamento reflexivo é capaz de desenvolver o entendimento do meio em que vivemos para pensar e repensá-lo, por que não acreditar na capacidade de transformar as empresas? Acredito que mesmo abandonado a universidade, Gates e Zuckeberg se aconselham e empregam executivos, diretores e vice-presidentes PhDs em Harvard.

Adriano Paranaiba é economista, professor e coordenador de cursos de pós-graduação na Faculdade Araguaia.
http://www.paranaiba.ecn.br/ 
adr.paranaiba@gmail.com 

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