19 de março de 2014

O Impacto do Câmbio no Agronegócio” – O Dilema do “Vai-Não-Vai

Com a força de nosso agronegócio sendo cada vez mais protagonista e no mercado internacional, principalmente nos complexos grãos e carnes, o impacto do dólar americano nos negócios locais se torna cada vez maior.

O câmbio nada mais é do que o sentido da palavra que origina, do espanhol ‘cambiar’, que significa mudança, ou seja: mudar a moeda que esta mercadoria é comercializada em um país, pela moeda do país que se destina. O que ocorre é que algumas moedas são mais valorizadas que outras, alterando assim, o fator de conversão. Se forem necessários dois reais e trinta centavos para trocá-los em um dólar, o preço da mercadoria se for US$ 10.00, será, em reais, R$ 23,00.

Compreender estas variações e quanto isso pode impactar seu negócio é mais do que mandatório para quem atua no agronegócio. Mais importante ainda é como podemos nos proteger dessas variações cambiais.


IMPACTO PARA QUEM IMPORTA

Para quem compra insumos agrícolas (fertilizantes, defensivos e sementes), vê a dependência do mercado externo muito fortemente nos preços pagos no mercado local. Toda vez que temos uma desvalorização do real face ao dólar há um repasse de preços para o produtor. Quando o contrário acontece, a redução nos preços é bem menor comparado aos momentos de aumento. Sendo assim o produtor se vê em uma “sinuca de bico” que corroe os custos de produção. Quando falamos de máquinas e implementos, o repasse ainda é maior, pois além da variação cambial existe o valor do aço e do minério no mercado internacional.

Para se ter uma idéia do tamanho da exposição do produtor a esses insumos agrícolas importados, mais de 60% dos fertilizantes que consumimos no Brasil vem do exterior, contra 40% provenientes do mercado interno. E quando o produto é de fora, é necessária a troca de reais por dólares para a efetivação dessa importação. O intervalo entre a encomenda desse insumo e a execução do preço efetivo da mercadoria pago pelo produtor é de aproximadamente 45 dias, grande parte em função da logística. Em momentos de variação cambial forte e incertezas no mercado internacional, somente a variação cambial nesse período, pode chegar a 10% a mais pago produtor em cada negócio. É um risco importante e que afeta diretamente a rentabilidade do empresário rural.

Mas essa variação no câmbio pode ser ainda maior, considerando o fato que muitos produtores adquirem seus produtos no sistema de trocas (recebendo fertilizante e pagando em sacas soja, por exemplo), podendo aumentar ainda mais a variação, pois o momento da compra dos insumos e da realização da venda da soja são muito distantes.

Há outro fator que pode aumentar os custos, pois as operações que envolvem a importação de produtos, toda a formação de preços é balizada pelo dólar americano como, por exemplo, os custos do petróleo e do frete internacional, além dos custos portuários.
Portanto, para quem compra insumos externos, compreender estas variações e avaliar mecanismos para reduzir esses riscos é mandatório para o empresário do agronegócio que não parou no tempo.


IMPACTO PARA QUEM EXPORTA

Para quem vende commodities agrícolas a “aflição” é ainda maior. O empresário do agronegócio deve considerar sempre três variáveis para compor seu preço no mercado local:

1,.) O preço da commoditie no mercado internacional (leia-se Bolsa de Chicago, ou CBOT, Chicago Board of Trade)”:
Os preços no mercado internacional são muito influenciados pelas relações de oferta e demanda desses produtos no mercado internacional, onde podemos salientar as variações climáticas e o controle de pragas do lado da oferta e do lado da demanda o impacto de grandes mercados compradores, como China por exemplo.

2.) O frete médio entre a sua região e os principais portos brasileiros (Santos e Paranaguá, no caso do complexo grãos).
Já os fretes no mercado interno sofrem principalmente o impacto dos preços dos combustíveis no mercado interno, sendo essa variável monitorada pelo governo brasileiro por intermédio da Petrobrás que monopoliza a distribuição dos combustíveis no Brasil. Um impacto no aumento de combustíveis no mercado interno gera um aumento direto na inflação. Por isso essa ingerência direta do governo nesse setor.

3.)  A relação entre o Real Brasileiro e o Dólar Americano
O valor do dólar americano e sua relação com a nossa moeda é dada pela taxa de cambio nominal, que é o resultado das negociações da moeda americana na BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros) diariamente. Na BM&F é onde todo fluxo de moedas relacionadas aos contratos de mercadorias em moeda estrageira são realizados, portanto é onde há o melhor equilíbrio entre a necessidade de moeda americana e de moeda nacional.

O Banco Central pode interferir nos negócios comprando ou vendendo reais e dólares quando achar conveniênte, pois possui um volume importante de dólares em reserva (aproximadamente USD 375 bilhões) e é o guardião do real brasileiro, podendo emitir a quantidade de moeda que achar necessário para equilibrar os mercados. Portanto é função do Banco Central evitar as grandes variações cambiais, mas não é papel dele direcionar os mercados. Portanto temos uma linha muito tênue entre regulação e intervenção.


Dito o acima, o empresário do agronegócio deve avaliar com cuidado o preço da commoditie que ele produz e a relação real versus dólar, ambos com o mesmo peso e importância.

Em determinados momentos em nossa economia pudemos constatar que a queda na cotação da soja pôde ser aliviada por uma forte desvalorização da moeda brasileira, fazendo com que nossos produtos se tornassem mais atrativos no mercado internacional. Quando o Dólar estava desvalorizado e a soja com cotações altas no mercado internacional pôde se verificar uma grande realização de lucros por parte do produtor brasileiro. Era o melhor dos cenários. O pior também já ocorreu, com real valorizado e preços baixos das commódities.

Esses fatores externos (ou exógenos), que não estão sob domínio ou gestão do produtor, que podem influenciar seu negócio. Desejar que o real se desvalorize para ele vender melhor, pode ser um erro, pois ele irá pagar mais caro nos insumos que ele compra. Desejar um real caro, pode fazer com que ele perca competividade no mercado internacional. Portanto um câmbio equilibrado, com variações diárias pequenas, é o melhor dos cenários para o agronegócio. O pior cenário são as variações malucas dadas pelo humor dos mercados internacionais. No médio prazo os ajustes são inevitáveis no mercado cambial, ou naturalmente pelas forças de mercado, ou via intervenção do Banco Central.


COMO SE PROTEGER ?

Hoje o produtor pode contar com uma série de profissionais que podem ajudá lo na consulta sobre as perspectivas e que produtos financeiros pode utilizar. Entendo que a proteção contra os riscos de mercado (preço da mercadoria) e cambiais (moedas) só pode se dar por meio dos mercados de derivativos.

Seguros e operações de hedge, são frequentemente utilizadas pelos grandes grupos produtores, e há uma grande parte de médios e pequenos produtores que não entram nesses mecanismos de proteção pois não entendem como funciona esse processo e o quanto pode ser seguro. É importante também citar que essa flutuação cambial é algo que ocorre efetivamente desde 2001 e por ser algo “relativamente novo” demanda uma processo de formação e compreensão por parte dos produtores.

Caro amigo e amiga, não se sinta incomodado  caso não conhecer estas operações, busque um economista ou operador do mercado financeiro para lhe ajudar nesse processo. Entender de economia é tão importante quanto sua busca por excelência dentro da porteira. Busque minimizar seus riscos externos, tanto quanto você busca melhorar seu desempenho em produção.

Mauricio Faganelo*
Adriano Paranaíba**

*Economista pela PUC-SP, MBA em Marketing pela ESPM-SP, Mestrando em Planejamento e Desenvovimento Territorial pela PUC-GO. É professor de cursos de pós graduação da FAR e Fac. Objetivo. Foi professor do IF Goiano, PUC-SP e UNINOVE-SP. Diretor da Moka21 Consultoria Empresarial, atua como consultor empresarial de empresas do Agronegócio, Indústrias, Comércio e Setor Público.


**Economista, Mestre em Agronegócio pela UFG, Doutorando em Logística pela UNB, Ex presidente do Instituto Pró Economia. É Professor do Instituto Federal de Goiás.

Um comentário: